terça-feira, 5 de março de 2013

[ANÁLISE] UFC Silva vs Stann

por Iuri Reis

Realizado no sábado, o UFC on Fuel TV: Silva vs. Stann ocorreu no Japão e, por isso, contou com maciça participação de lutadores orientais.

Ao todo, nove lutadores orientais (três coreanos e seis japoneses) subiram no octógono, obtendo cinco vitórias e quatro derrotas.

De maneira geral, penso que o saldo do evento foi positivo, pois reaproximou o topo do MMA do Japão, país apaixonado pela modalidade e que protagonizou os tempos áureos dos extintos WEC e PRIDE.

Grande parte do evento foi pouco emocionante, com lutas burocráticas e pouco agressivas. Apesar disso, o final do evento guardou grandes emoções

Das onze lutas realizadas, dou destaque e gostaria de comentar três:

1) Yushin Okami x Hector Lombard

Os lutadores subiram no octógono ranqueados como 4º e 8º melhores lutadores da categoria dos médios respectivamente (após a luta são 3º e 10º do ranking).

Okami vinha de vitória burocrática e chata, apesar de pouco questionável, contra Alan Belcher.

Já Hector Lombard vinha de vitória avassaladora sobre Rosimar Palhares na qual havia justificado, após estreia apagada e decepcionante no UFC, porque era campeão do Bellator há 5 anos.

Os dois primeiros rounds foram praticamente idênticos, com Lombard tomando a iniciativa na trocação e mostrando maior poder de fogo.

Okami, apesar de mais preciso, acertando a maioria dos golpes, mostrou baixíssima agressividade e pouca potência nos socos.

Contudo, o japonês não teve qualquer dificuldades para encurtar a distância e colocar o cubano para baixo, utilizando um monótono e pouco efetivo ground and pound, suficiente apenas para garantir-lhe vitória nos dois rounds.

No terceiro round, já ciente da derrota por pontos, Lombard veio com tudo para cima e quase nocauteou Okami (que possui um queixo suspeitíssimo).

Porém, Lombard cansou e Okami conseguiu trazê-lo para o clinch, cozinhando a luta até o final.

Para mim, foi um claríssimo 29 a 28 em favor do Japonês. Não entendi o porque de um dos árbitros ter visto algo diferente, já que a decisão foi dividida.

De qualquer forma, a luta foi interessante, pois demonstrou dois fatos curiosos.

O primeiro é escancarar a fragilidade do Bellator e o nível muitíssimo superior do UFC. Lombard vem encontrando enorme dificuldade em lidar com lutadores mais completos, capazes de utilizar o Wrestling e o Clinch com eficiência e amarrar sua potência.

No Bellator, sua agressividade e mãos pesadíssimas davam conta do recado sem maiores problemas.

O segundo ponto é o fato de que Okami não é, afinal, tão ruim quanto muitos apontavam quando disputou o cinturão contra Anderson Silva.

O Japonês é claramente fraco na trocação e possuiu um queixo que deixa a desejar, mas sabe neutralizar bem suas deficiências e usa um jogo de quedas bem decente para obter vitórias e, assim, galgar um bom ranqueamento entre os médios - hoje está atrás apenas do Anderson e do Weidman, que devem fazer a próxima disputa de cinturão, além de Belfort, que também vem de vitória importante.

2) Mark Hunt x Stefan Struve

Ambos vinham de uma boa sequência de vitórias e querendo entrar em rota de cinturão (Dana White já havia sinalizado que uma vitória de Struve poderia colocá-lo como forte candidato à disputa).

Eu vi Struve mais consistente e técnico ao longo da luta, mais preciso na trocação e demonstrando alguma habilidade no Jiu Jitsu, que poderia ter definido a luta.

Ainda assim, apresentou pouca potência nos socos e perdeu uma série de chances de finalizar a luta no solo.

Na categoria dos pesados e ainda mais contra um cara com a potência de Hunt, não se pode perder as chances de liquidar a fatura.

E Struve pagou caro por sua ineficiência. Foi nocauteado com duas bombas no queixo que lhe renderam uma fratura de maxilar de ponta a ponta.

Talvez essa fratura tenha gerado a imagem mais marcante do evento, a tomografia do maxilar de Struve rachado:








A luta reforça que, nos pesados, um soco pode definir a luta.

Não vejo Hunt com qualidade suficiente para tomar o cinturão dos Pesados de qualquer dos top 4 da categoria.

No entanto, após a quarta vitória seguida, penso que ao menos o direito de disputa se aproxima.

Quanto à Struve,o cara aparenta esta na carreira errada.

Seus 2,13m impõem que, embora extremamente magro, não possa ganhar mais massa muscular, pois ultrapassaria o limite dos Pesados.

Sendo assim, o lutador demonstra fragilidade excessiva para a categoria e provavelmente ainda o veremos sofrendo muitos outros nocautes.

Ao mesmo tempo, é impossível para ele cortar peso e cogitar lutar em outra categoria, o que me faz pensar que não existe futuro promissor para ele no MMA.

A única saída seria a criação da já aventada categoria dos “Super Pesado” ou a migração para um evento no qual ele possa lutar com mais peso.

3) Wanderlei Silva x Brian Stann

Luta principal do evento, esse combate era bastante aguardado pelo público japonês, que é muito fã de Wanderlei Silva.

O brasileiro foi ovacionado em sua entrada.

O combate foi absolutamente eletrizante, um dos melhores que já presenciei.

Durante a maior parte da luta, a trocação foi aberta, com ambos mais preocupados em atacar do que defender.

Como resultado, vários socos entraram e os lutadores perderam as pernas por mais de uma vez.

Wanderlei mostrou maior eficiência em se proteger quando atingido, agarrando rapidamente as pernas de Stann e neutralizando os ataques, permitindo a recomposição.

Além disso, dois chutes na genitália em momentos de apuros permitiram ao brasileiro respirar e se recuperar.

Na volta para o segundo round, ambos os lutadores foram fortemente aplaudidos e saudaram o público, que estava em êxtase com as performances!

O segundo round não decepcionou.

Embora com ímpeto um pouco reduzido pelo cansaço, os adversários retornaram novamente disposto à trocação franca e aberta.

Wanderlei também demonstrou preocupação um pouco maior com a precisão de entradas e saídas.

E foi justamente a trocação que definiu a luta. Após muitos socos, a mão de Wanderlei finalmente entrou firme em Brian Stann, que sentiu.

Um segundo soco foi suficiente para levar o americano à lona e, seguido de um brevíssimo castigo no chão, decretar o fim do combate por nocaute:




Brian Stann completa três derrotas em quatro lutas.

Contudo, penso que sai valorizado do combate e com baixo risco de demissão, pois fez uma luta muito empolgante e certamente conta com o apoio do público, que quer vê-lo em ação novamente.

Já Wanderlei ganha nova sobrevida no UFC.

O Cachorro Louco mostrou que, independentemente de vitórias ou derrotas, ainda pode render bons frutos à companhia, pois faz lutas incríveis (muito melhores, por exemplo, do que as apresentadas por GSP e José Aldo recentemente).

Também mostrou que bem treinado e focado pode fazer lutas interessantes e dar trabalho (quem sabe a tão sonhada revanche contra Belfort).

Ainda assim, trata-se claramente de um lutador despreocupado e sem ambições, que não entrará mais em rota de cinturões.

Talvez esteja aí toda a graça de suas lutas, pois com uma carreira consagrada e sem grandes pretensões, se dedica exclusivamente a dar belos espetáculos.

Saldo positivo, portanto, tanto para o evento quanto para as três lutas destacadas, principalmente o main event.

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