Realizado
no sábado, o UFC on Fuel TV: Silva vs. Stann ocorreu no Japão e, por isso, contou com maciça participação de
lutadores orientais.
Ao todo, nove lutadores
orientais (três coreanos e seis japoneses) subiram no octógono, obtendo cinco
vitórias e quatro derrotas.
De maneira geral, penso que o
saldo do evento foi positivo, pois reaproximou o topo do MMA do Japão, país
apaixonado pela modalidade e que protagonizou os tempos áureos dos extintos WEC
e PRIDE.
Grande parte do evento foi
pouco emocionante, com lutas burocráticas e pouco agressivas. Apesar disso, o
final do evento guardou grandes emoções
Das
onze lutas realizadas, dou destaque e gostaria de comentar três:
1) Yushin Okami x Hector Lombard
Os
lutadores subiram no octógono ranqueados como 4º e 8º melhores lutadores da
categoria dos médios respectivamente (após a luta são 3º e 10º do ranking).
Okami
vinha de vitória burocrática e chata, apesar de pouco questionável, contra Alan
Belcher.
Já
Hector Lombard vinha de vitória avassaladora sobre Rosimar Palhares na qual havia
justificado, após estreia apagada e decepcionante no UFC, porque era campeão do
Bellator há 5 anos.
Os
dois primeiros rounds foram praticamente idênticos, com Lombard tomando a
iniciativa na trocação e mostrando maior poder de fogo.
Okami,
apesar de mais preciso, acertando a maioria dos golpes, mostrou baixíssima
agressividade e pouca potência nos socos.
Contudo,
o japonês não teve qualquer dificuldades para encurtar a distância e colocar
o cubano para baixo, utilizando um monótono e pouco efetivo ground and pound,
suficiente apenas para garantir-lhe vitória nos dois rounds.
No
terceiro round, já ciente da derrota por pontos, Lombard veio com tudo para
cima e quase nocauteou Okami (que possui um queixo suspeitíssimo).
Porém,
Lombard cansou e Okami conseguiu trazê-lo para o clinch, cozinhando a luta até
o final.
Para
mim, foi um claríssimo 29 a 28 em favor do Japonês. Não entendi o porque de um
dos árbitros ter visto algo diferente, já que a decisão foi dividida.
De
qualquer forma, a luta foi interessante, pois demonstrou dois fatos
curiosos.
O
primeiro é escancarar a fragilidade do Bellator e o nível muitíssimo superior do UFC.
Lombard vem encontrando enorme dificuldade em lidar com lutadores mais
completos, capazes de utilizar o Wrestling e o Clinch com eficiência e amarrar sua potência.
No
Bellator, sua agressividade e mãos pesadíssimas davam conta do recado sem
maiores problemas.
O
segundo ponto é o fato de que Okami não é, afinal, tão ruim quanto muitos
apontavam quando disputou o cinturão contra Anderson Silva.
O
Japonês é claramente fraco na trocação e possuiu um queixo que deixa a desejar,
mas sabe neutralizar bem suas deficiências e usa um jogo de quedas bem decente
para obter vitórias e, assim, galgar um bom ranqueamento entre os médios - hoje está atrás apenas do Anderson e do Weidman, que devem fazer a próxima disputa de cinturão, além de Belfort, que também vem de vitória importante.
2) Mark Hunt x Stefan Struve
Ambos
vinham de uma boa sequência de vitórias e querendo entrar em rota de cinturão
(Dana White já havia sinalizado que uma vitória de Struve poderia colocá-lo
como forte candidato à disputa).
Eu
vi Struve mais consistente e técnico ao longo da luta, mais preciso na trocação
e demonstrando alguma habilidade no Jiu Jitsu, que poderia ter definido a luta.
Ainda
assim, apresentou pouca potência nos socos e perdeu uma série de chances de
finalizar a luta no solo.
Na
categoria dos pesados e ainda mais contra um cara com a potência de Hunt, não
se pode perder as chances de liquidar a fatura.
E
Struve pagou caro por sua ineficiência. Foi nocauteado com duas bombas no
queixo que lhe renderam uma fratura de maxilar de ponta a ponta.
Talvez essa fratura tenha gerado a imagem mais marcante do evento, a tomografia do maxilar de Struve rachado:
A
luta reforça que, nos pesados, um soco pode definir a luta.
Não
vejo Hunt com qualidade suficiente para tomar o cinturão dos Pesados de
qualquer dos top 4 da categoria.
No
entanto, após a quarta vitória seguida, penso que ao menos o direito de disputa
se aproxima.
Quanto
à Struve,o cara aparenta esta na carreira errada.
Seus
2,13m impõem que, embora extremamente magro, não possa ganhar mais massa
muscular, pois ultrapassaria o limite dos Pesados.
Sendo
assim, o lutador demonstra fragilidade excessiva para a categoria e provavelmente
ainda o veremos sofrendo muitos outros nocautes.
Ao
mesmo tempo, é impossível para ele cortar peso e cogitar lutar em outra
categoria, o que me faz pensar que não existe futuro promissor para ele no MMA.
A
única saída seria a criação da já aventada categoria dos “Super Pesado” ou a
migração para um evento no qual ele possa lutar com mais peso.
3) Wanderlei Silva x Brian Stann
Luta
principal do evento, esse combate era bastante aguardado pelo público japonês,
que é muito fã de Wanderlei Silva.
O
brasileiro foi ovacionado em sua entrada.
O
combate foi absolutamente eletrizante, um dos melhores que já presenciei.
Durante
a maior parte da luta, a trocação foi aberta, com ambos mais preocupados em
atacar do que defender.
Como
resultado, vários socos entraram e os lutadores perderam as pernas por mais de
uma vez.
Wanderlei
mostrou maior eficiência em se proteger quando atingido, agarrando rapidamente
as pernas de Stann e neutralizando os ataques, permitindo a recomposição.
Além
disso, dois chutes na genitália em momentos de apuros permitiram ao brasileiro
respirar e se recuperar.
Na
volta para o segundo round, ambos os lutadores foram fortemente aplaudidos e
saudaram o público, que estava em êxtase com as performances!
O
segundo round não decepcionou.
Embora
com ímpeto um pouco reduzido pelo cansaço, os adversários retornaram novamente
disposto à trocação franca e aberta.
Wanderlei também demonstrou preocupação um pouco maior com a precisão de entradas e saídas.
Wanderlei também demonstrou preocupação um pouco maior com a precisão de entradas e saídas.
E
foi justamente a trocação que definiu a luta. Após muitos socos, a mão de
Wanderlei finalmente entrou firme em Brian Stann, que sentiu.
Um
segundo soco foi suficiente para levar o americano à lona e, seguido de um brevíssimo castigo no chão, decretar o fim do
combate por nocaute:
Brian
Stann completa três derrotas em quatro lutas.
Contudo,
penso que sai valorizado do combate e com baixo risco de demissão, pois fez uma
luta muito empolgante e certamente conta com o apoio do público, que quer vê-lo em
ação novamente.
Já
Wanderlei ganha nova sobrevida no UFC.
O
Cachorro Louco mostrou que, independentemente de vitórias ou derrotas, ainda
pode render bons frutos à companhia, pois faz lutas incríveis (muito melhores,
por exemplo, do que as apresentadas por GSP e José Aldo recentemente).
Também
mostrou que bem treinado e focado pode fazer lutas interessantes e dar trabalho
(quem sabe a tão sonhada revanche contra Belfort).
Ainda
assim, trata-se claramente de um lutador despreocupado e sem ambições, que não
entrará mais em rota de cinturões.
Talvez
esteja aí toda a graça de suas lutas, pois com uma carreira consagrada e sem
grandes pretensões, se dedica exclusivamente a dar belos espetáculos.
Saldo
positivo, portanto, tanto para o evento quanto para as três lutas destacadas, principalmente o main event.
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